Rituais
Ritual que prezo, embora ultimamente seja difícil manter, são as manhãs de sábado passadas no café do Germano, a ler o jornal e a ouvir as últimas notícias do bairro e da vizinhança.
Sim confesso, cusco as conversas alheias, mas quem não fica de ouvido à escuta com as conversas à nossa volta que atire a primeira pedra!
Sábado passado o ritual cumpriu-se e fiquei contente por ver o "Marcha atrás", figura ímpar da mobilidade urbana (*faz-se deslocar de cadeira de rodas, devidamente equipada com um assento de bolas de massagem, daqueles que usam os taxistas) ao balcão do Germano, a dissertar sobre as diferenças (ou semelhanças) de mobiliário da Moviflor e do IKEA. Passo a citar: "... a Moviflor já tem história em Portugal, mobilou muita casa, o outro (IKEA) é material descartável, não aguenta muito!". Um tratado sobre design e qualidade!
A galeria dos presentes é uma verdadeira mostra da perfeita convivência entre os povos. Desfilam e estacionam grupos de idosas cuscuvilheiras, encharcadas em plix (famoso colorante que transforma cãs cabeleiras em nuvens aniladas), ciganos que vendem roupa enquanto engolem a merendinha panike, pares por uma noite que depois de saciadas outras fomes, aconchegam o corpo e a alma com torradas e galões, coleccionadores de isqueiros e imperiais, o alfarrabista do Terreiro de Paço, em frente ao Martinho, também lá pára em intermináveis monólogos, uma frequentadora "sarampo-mal-curado" como diz uma conhecida minha, referindo-se a gente com "panca", toma a meia de leite sempre vestida com roupinha "vintage" no verdadeiro sentido da palavra, casaco verde-esmeralda, modelo anos 50, conjugado com bata florar, já para não falar nos óculos também retro e sempre com dedadas de refogado, enfim adereços que fariam inveja a muitos frequentadores do Bairro Alto e afins. E mais, muito mais...
O filho do proprietário é um jovem estilista, que trabalha a tempo inteiro no café, mas que fala sobre todos os assuntos, nomeadamente, já o ouvi mandar bitates sobre informática, literatura light, barcos de vela e caras famosas, enquanto com a mãozinha sapuda e dedinho mindinho arrebitado barra manteiga em torrada alheia.
Em cima da arca dos gelados da Nestlé figura sempre ao lado do Boletim do Atlético Futebol Clube o inigualável 24 Horas.
O famoso Germano é um senhor bem disposto, mas que devia cortar e limpar mais vezes as unhas.
Qual Versailhes qual Brasileira! os di Roma que aprendam com o Café do Germano!
Enfim todo um manancial que mantém vivo e humaniza um bairro.
2 Comments:
Aposto que nunca pedes torradas.Também queria um bairro assim:)
Parabéns!!!!!! E andava esta escritora escondida. Como ela própria diria - o meu bairroooo éeee lindoooooooooo!!!!!!!!!!
A galega quer mais rsrsrsr
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